terça-feira, 18 de dezembro de 2012

NITERÓI - CATADORES DE CULTURA



Papel, plástico, vidro e metal. Para os catadores de lixo do Programa de Coleta Seletiva do Bairro de São Francisco, em Niterói, região metropolitana do Rio, separar os materiais em apenas quatro categorias é muito pouco. Por isso, adicionaram tantas outras à sua triagem pouco convencional: selo, foto, disco, mapa, moeda, partitura, livro. São objetos que mostram as riquezas culturais perdidas nas lixeiras espalhadas pelas cidades.
"Esse potencial de recolhimento de materiais de valor cultural é um aspecto da coleta seletiva que ainda não tem sido avaliado", diz Emílio Maciel Eigenheer, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador do programa. O trabalho - iniciado há mais de 20 anos e desenvolvido em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Centro Comunitário de São Francisco (Ccsf), a associação de moradores do bairro - formou um rico acervo que resgata a memória cultural da região.
Sem um canal adequado para que esses materiais sejam reaproveitados, eles acabam indo parar no lixo. Somente no Centro de Memória Fluminense (Cemef) da UFF, são 6 mil livros vindos do programa. No centro está a Coleção Lourenço de Araújo, formada graças à iniciativa dos catadores em preservar correspondências, manuscritos, diplomas e documentos reunidos por uma família de escritores ao longo de nove décadas.
O material estava em um apartamento desocupado que já pertencera a Araújo, frequentador do Café Paris, reduto de intelectuais e boêmios da cidade.
Reinaldo da Silva Soares é um dos cinco catadores do programa. Desenhista nas horas vagas, ele se entusiasma quando encontra livros de arte e histórias em quadrinhos. O projeto, pioneiro na implantação de coleta seletiva, em 1987, é autossustentável. Mantém-se com recursos da venda de de 22 toneladas de material reciclável e da venda anual de 1,2 mil livros para sebos. Além disso, tem um site ligado ao Centro de Informação sobre Resíduos Sólidos (CIRS) da UFF, em que as publicações são oferecidas a alunos, funcionários e professores da UFF e da Uerj.
Fonte: Estadão


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